23.6.10

A Família Herrmann





Por mais de 80 anos o nome Herrmann levou multidões ao teatro.

O primeiro Herrmann a ter projeção internacional foi Carl Compars Herrmann, com sua aparência diabólica – depois adotada por seu irmão Alexander e seu sobrinho Leon, tornando-se marca registrada da família – humor refinado, habilidade extrema e poder de autopromoção, equiparou-se aos maiores astros do século XIX.



Carl era o primogênito dos dezesseis filhos de Samuel Hermann e nasceu em Hanover, Alemanha, em 23 de janeiro de 1816. Carl aprendeu os primeiros truques e imitações de assobios de passarinhos atuando como assistente de seu pai.

Certa vez Carl, ainda garoto, foi em uma excursão da escola aos jardins do palácio real francês, em Fontainbleu. Subiu em uma árvore, escondeu-se entre a folhagem e passou a imitar o silvo de passarinhos. Dois príncipes e alguns amigos que por ali passavam ficaram curiosos para ver o passarinho, subiram na árvore e se espantaram ao ver que era Carl. Ficaram tão admirados que convidaram Carl para que fizesse sua apresentação dentro do palácio.



Os Herrmann ainda viriam a se apresentar perante reis e rainhas por muito mais vezes. Quarenta e cinco anos depois, o Duque de Montpensies, em ocasião de uma apresentação de Carl para a Rainha Isabella II, da Espanha. Carl era o mais celebrado mágico da Europa Central.




Carl começou a fazer os primeiros truques de mágica por volta dos 20 anos, em Paris, onde morava, apresentando-se em escolas e audiências privadas. Em pouco tempo já se apresentava em pequenos teatros, ganhando o suficiente para comprar equipamentos e montar um show de três horas. Carl estava pronto para ir para a Inglaterra em busca de audiências, e fama, maiores.


Em Londres Carl apresentou-se como “O Melhor Prestidigitador da França e O Primeiro Professor de Mágica do Mundo”. Ele era um mestre de marketing.

Carl fez versões de truques já conhecidos, como o Portfólio e a Levitação, de ambos do repertorio de Maskelyne, mas melhorados e adaptados à verve dramática de Carl. Mas as melhores rotinas de Carl eram baseadas no trabalho de Robert-Houdin. Isto porque Carl contratou um antigo assistente de R.H., de nome LeGrand, que trouxe consigo alguns dos segredos que aprendera e acabou sendo depois preso por isto.

Iniciava-se ali a rivalidade entre Carl e Robert-Houdin.


Carl seguiu com seu show para as Ilhas Britânicas e a Europa, apresentando-se para a realeza europeia e recebendo, como sinal de admiração, uma boa quantidade de valiosas joias, como um relógio de ouro, adornado com diamantes, pérolas e ametistas, dado pelo Czar Nicola I em ocasião de uma apresentação em S. Petesburgo. Apresentação esta em que Carl usou pela primeira vez como assistente, em um número de levitação, seu irmão de oito anos: Alexander, que viria a se tornar outra lenda na cena artística.

Certa vez Carl foi a uma apresentação de mágica de Philippe, de quem Carl era fã. Ao chegar à porta do teatro foi reconhecido pelo bilheteiro, que ofereceu a Carl ingressos grátis, mas Carl recusou e pagou os ingressos para si e sua acompanhante. Chega a hora do show, as cortinas se abrem e, para surpresa de Carl, o mágico que se apresentava como Philippe era o bilheteiro. Carl levantou-se e gritou: Philippe é meu amigo e você é um farsante, não é francês, você é um desgraçado de um inglês. A audiência inglesa se sentiu insultada e reagiu, ao que a mulher que acompanhava Carl também se levantou e disse que Carl havia se expressado mal, não queria ser desrespeitoso com o público inglês que sempre lhe acolheu bem, e que estava nervoso e irritado com a trapaça e a ofensa a um amigo dele. Enquanto isto Carl havia se levantado da plateia e subido ao palco, levantando a grande toalha que cobria a mesa de apresentações, revelando um garoto de oito anos escondido embaixo da mesa e segurando nas mãos um coelho, pronto para passá-lo por uma porta secreta bem embaixo do cone sobre a mesa, aonde o coelho viria a aparecer. O farsante tentou dar um jab em Carl, mas Carl se desviou e retrucou a agressão, deixando um olho roxo no farsante. O farsante se chamava Harry Graham e viria depois a se fazer passar por Robert-Houdin e outros mágicos europeus.

Carl gostava de se apresentar individualmente. Enquanto muitos dos mágicos da época estavam cada vez mais criando apresentações de maior dimensão, Carl seguia o caminho contrário, se concentrando em prestidigitação. Tal tendência foi inspirada por um mágico chamado Wiljalba Trikell, que após perder toda sua parafernália em um incêndio, passou a se apresentar apenas com os apetrechos que coubessem em seus bolsos.

E foi sob este novo enfoque que Carl se apresentou no Brasil, Uruguai, Argentina e Cuba. Nesta última, Carl ganhou mais um item para sua coleção de joias: uma vara de ouro incrustada com safiras e diamantes.

De Cuba Carl navegou para Nova Orleans, iniciando uma turnê pelo sul dos EUA. Já havia feito 24 shows pelo sul quando irrompeu a Guerra Civil americana, tendo Carl pego o ultimo trem que sairia para o norte.

Já em Nova Iorque, Carl se apresentou na Academia de Música, com ampla publicidade. Carl era um mestre de marketing. Quando foi a um dos mais renomados restaurante da cidade, pediu peixe e quando o garçom trouxe o prato sob uma redoma de prata, ao retirá-la o que se viu foi um rato vivo. Carl também expôs na loja Tiffany’s a coleção de joias que havia ganhado das realezas e famosos para os quais se apresentou em suas turnês mundiais. Centenas de cartazes e panfletos de Carl circularam pela cidade. Não era por menos que a Academia de Música recebeu a maior plateia de sua história. Foram quatro semanas de sucesso com rendimentos de cerca de 35.000 dólares para Carl.

Durante a Guerra Civil, muitos mágicos se retiraram de cena, mas Carl continuou a se apresentar no norte dos EUA, inclusive na Casa Branca perante Abraham Lincoln e outras altas autoridades governamentais. Carl recebeu de Lincoln uma caixa de madeira com duas pistolas de duelos.

Em 1863 Carl retornou para a Inglaterra para uma longa turnê.

Após a turnê inglesa, Carl comprou uma mansão em Viena e a decorou com as antiguidades e souvenires adquiridos em suas turnês.

Carl continuou com apresentações regulares até 1870, quando concluiu uma turnê americana e retirou-se para sua mansão em Viena. Todavia, com a crise econômica de 1874 todas as economias e investimentos de Carl minguaram, forçando-o a vender a casa e suas antiguidades, mantendo consigo apenas seu material de mágicas e as joias que havia ganhado.

Com 57 anos Carl retorna à estrada para apresentações, conseguindo, após, 13 anos, ganhar 150.000 dólares e comprar outra casa em Viena.

Em 1884, em Kiev, durante uma turnê na Rússia, Carl tropeçou em uma calçada do teatro e quebrou um osso do pé. Carl se recusou a ser tratado por médicos russos e seguiu com as apresentações, só vindo a procurar um médico quando retornou a Viena. Mas aí era tarde e as sequelas eram inevitáveis.

Em maio de 1887 a esposa leva Carl para Carlsbad, para uma tentativa de cura, mas um mês depois, em 8 de junho, Carl veio a falecer em decorrência de uma inflamação pulmonar.



Com a morte de Carl, seu irmão Alexander, que já vinha fazendo sucesso com suas próprias apresentações, assume o legado da família Herrmann.

Anos antes Alexander já era apontado como o sucessor de Carl e já tinha alcançado a marca de mil noites no Egyptian Hall e já havia se apresentado em várias cidades inglesas.



Nesta época Alexander conheceu Adelaide, uma dançarina com então 22 anos de idade e filha de belgas, que viria a se casar com Alexander em março de 1875 na cidade de Nova Iorque.



Durante a cerimônia civil Alexander não perdeu a oportunidade: fez surgir da barba do oficiante um rolo de notas de dinheiro.



Decidido a fixar residência dos EUA, Alexander obteve a cidadania americana em 1876.
Seus shows continuavam bem requisitados.

Carl se apresentou no Rio de Janeiro em 1883 perante D. Pedro II, então imperador do Brasil. Dois anos após Alexander se apresentaria no palácio real espanhol perante o Rei Afonso XII, recendo como presente uma sela folheada a prata, tendo o rei ainda indagado como poderia recompensá-lo pelos momentos mágicos proporcionados.
Carl então pediu ao rei que fosse na noite seguinte ao teatro e quando fossem solicitados voluntários o rei deveria se apresentar. E assim foi feito na noite seguinte. Alexander entregou ao rei uma folha de papel e pediu para que o rei o assinasse. O mágico pega o papel de volta, faz uma invocação aos espíritos e pede a eles que mandem uma mensagem do além. Palavras se materializam no papel, que é entregue ao rei para que confirmasse sua assinatura e lesse a mensagem. O rei pegou o papel, deu uma gargalhada e disse: os espíritos indicam Alexander como novo rei da Espanha, eu reconheço minha assinatura e se os espíritos assim ordenam, eu concordo.




Ao contrário de Carl, Alexander passava a desenvolver números cada vez mais grandiosos, como a cremação de Adelaide e levitações. E para transportar seus equipamentos e sua trupe, Alexander contava com um luxuoso vagão casa próprio, bem como alguns vagões de carga.

Alexander, para provar suas habilidades e domínio da mágica, oferecia 20.000 dólares para qualquer pessoa que fizesse algum número que ele não pudesse repetir.




Alexander passou a fazer aquele que seria considerado o número mais perigoso do universo da mágica: pegar um projétil de bala com os dentes.
Após seis apresentações, nos EUA, França, México e Cuba, do número da bala, Adelaide pede que Alexander aposente o número e parasse de desafiar a morte. Alexander ignorou as súplicas de Adelaide.

Algum tempo depois Alexander se retira para uma temporada de descanso em seu iate Fra Diavolo.

Alexander fez grande fortuna, mas perdeu muito dinheiro especulando com algodão na bolsa de mercadorias e futuros, investindo em um teatro na Filadélfia (cujo teto desabou antes da reinauguração) e, por incrível que pareça, jogando carteado.

Alexander também era muito caridoso, fazendo doações e apresentações para os necessitados.

Certa ocasião, uma senhora foi à casa de Alexander para pedir-lhe que fizesse um show beneficente para um fundo de ajuda a crianças doentes. A senhora tocou o sino. A porta se abriu sozinha e ouviu-se uma voz indagando o que a senhora desejava. A mulher procurou ao redor e só viu um pássaro preto falando. De repente surge um esqueleto e a mulher grita de susto. Aparece uma empregada e conduz a mulher, pálida, para o aposento em que Alexander e Adelaide estavam.

Aos 52 anos Alexander continuava com seus shows, mas já anunciava que Leon, seu sobrinho que estava em Paris, seria seu sucessor.



Em dezembro de 1896 Alexander embarcou em seu vagão particular para fazer um show em Bradford, Pensilvânia.

Na manhã de 17 de dezembro, quando o comboio se aproximava de Great Valley, N.Y., o a América perde seu mágico mais popular de ataque cardíaco.
O obituário foi o mais extenso já publicado para um mágico e por vários dias os jornais publicaram artigos sobre Alexander, O Grande.




Adelaide, agora viúva, chama o sobrinho Leon, que estava na França, para que viesse aos EUA.



Leon Herrmann fez sua estreia a frente da companhia, junto com Adelaide, em uma sessão só para a imprensa, no dia 17 de janeiro de 1897, em Nova Iorque. Ele estava com 29 anos, havia sido assistente de seu tio Carl Herrmann na Europa e na América do Sul e herdou a habilidade com moedas, bolas e cartas de seu tio Alexander.
Leon adotou a caracterização dos tios, cultivando os típicos bigodes e barbichas de seus tios. E seu inglês com sotaque francês acrescia um charme à caracterização de Leon.





Mas a incompatibilidade de gênios fez com que Leon e Adelaide se separassem após algum tempo em turnê.





Leon seguiu carreira solo até maio de 1909, quando no dia 16, com 42 anos e de férias em Paris, vem a falecer.



Adelaide, com apresentações de mágica e dança, continua a fazer sucesso, apresentando-se na Europa e em Cuba, embora prefira fazer seus shows na América.

No final de 1917 Adelaide, então com 64 anos, aparece caracterizada de Cleópatra em uma apresentação no Egito, a demonstrar sua vitalidade e versatilidade.

Em setembro de 1926 um incêndio em um depósito de Manhattan vitimou 60 dos animais adestrados da companhia de Adelaide, levando junto à maioria dos equipamentos de mágica que Adelaide herdou de Alexander. Os jornais noticiaram que a carreira de Adelaide estava acabada. Ledo engano.



Adelaide, com 73 anos, entra em turnê novamente, com um novo show.
Passados dois anos, Adelaide ainda estava em cena, mas sua saúde se debilitou e ela foi obrigada a se retirar. Quatro anos após sua ultima apresentação Adelaide morre de pneumonia e arteriosclerose. Era o dia 19 de fevereiro de 1932 e Adelaide estava com 79 anos.



Adelaide teve uma carreira profissional mais longa que as de Carl ou Alexander, ficando em cena por meio século, sendo 31 anos de carreira solo.



Como família de mágicos, os Herrmanns nunca foram superados.

6 comentários:

Lucas Herrmann disse...

Eu sou um Herrmann,tive curiosidade de saber minha origem

Yan Grego disse...

eu também sou um Herman e tive muita vontade em conhecer.

Unknown disse...

Também sou Herrmann

Unknown disse...

Eu sou ex nora de herrmann é os amos.

Michelle Hermann disse...

Eu sou Michelle Hermann mae de Yan grego Hermann e estou fazendo a arvore genealógica.se algueativer informações. Obrigada 21 966569063 whWhatsA

Unknown disse...

Poisé