19.6.10

John Nevil Maskelyne






Johnn Nevil Maskelyne, filho de um fabricante de selas, nasceu em 22 de dezembro de 1839. Quando criança já tentava fazer o número de vários pratos girando sobre a mesa, cantava da igreja e tocava corneta. Como Robert-Houdin, iniciou-se profissionalmente como relojoeiro, tendo aos 19 anos construido seu primeiro equipamento de mágica: uma caixa com um compartimento secreto. Maskelyne colocava um anel emprestado dentro da caixa, lacrava-a e antes de entregar a caixa ao espectador, sorrateiramente se apossava do anel. O truque já era conhecido, mas a qualidade da caixa de Maskelyne, não.


(The Davenport brothers and William Fay with their spirit cabinet)

Ainda jovem, Maskelyne foi a um show dos Irmãos Davenport, cujo número de espiritismo era um sucesso. O apresentador pediu por voluntários para o truque e um deles era Maskelyne. Os voluntários examinaram a cabine, que estava no centro do palco e dentro da qual havia sinos, um violino, sinos e um tamborim, e amarraram as mãos e pés dos irmãos mediuns dentro da cabine. A cabine é trancada e as luzes apagadas. Imediatamente supostas manifestações espíritas começam a acontecer: violinos, tamborins e sinos tocam sozinhos. Mãos com luvas brancas aparecem na porta entreaberta. Espanto, medo. As luzes são acesas, a cabine é aberta e dentro estão os irmãos Davenport amarrados tal qual no início. Estupefação, assombro, palmas efuzantes.



O único que não se surpreendeu foi Maskelyne: por um golpe de luz pode ver um dos irmãos com as mãos desamarradas e tocando os instrumentos. Maskelyne conta o que viu para a plateia, mas um assistente contorna a situação, dizendo que Maskelyne devia ter se confundido.

Decidido a provar que falara a verdade, Maskelyne se junta a um conhecido mais velho que ele – Cook – e decidem repetir a mágica dos irmãos Davenport.



Após três meses, em 19 de junho de 1865, Maskelyne e Cook se apresentam no Jessop’s Garden e repetem o número dos irmãos Davenport. Cinco dias depois, o Bermingham Gazette divulga a façanha sob o título: Irmãos Davenport Superados”. De fato, a qualidade da apresentação de Maskelyne e Cook era superior a dos Davenport, e estava provado que espíritos não eram dados a fazerem shows de mágica. A fama se aproximava.

Maskelyne e Cook fazem, com sucesso, shows nas cidades vizinhas, até chegarem a Londres em 1869, inclusive para uma apresentação privada no Castelo de Bekerley para o Principe de Gales. A fama chegara.
Maskelyne e Cook criaram uma nova apresentação, inspirada em Robert-Houdin, mas superior: a levitação de uma pessoa no palco. Deu no The Times.




Maskelyne e Cook passam a se apresentar em um espaço que se tornaria lendário entre os amantes da mágica: o Egyptian Hall.






No mesmo local também estava se apresentando outro mágico – Lynn – que havia abandonado a marinha inglesa para começar a carreira de mágico na Austrália. E dentre os números de Lynn estava uma imitação da cabine espírita de Maskelyne e Cook, mas que Lynn dizia ser invenção antiga sua, fato confirmado por falsas testemunhas. E acrescentava que se tratava de um número que outros mágicos ingleses estariam imitando. Maskelyne e Cook não se deram por vencidos e publicaram um texto narrando a farsa de Lynn. E mais, desafiam qualquer um a mostrar algum registro anterior da apresentação de Lynn. Tal registro, como soer, nunca apareceu. Mas apareceu um outro mágico – Sexton – que dizia que tanto Maskelyne e Cook como Lynn estavam mentindo, pois o truque já havia sido feito por outros mágicos. O que menos importava era elucidar os fatos, pois a publicidade da disputa trouxe dividendos e fama para todos.

Maskelyne e Cook passaram a criar novos truques e a reinventar antigos, inclusive o malabarismo dos pratos que Maskelyne fazia quando jovem.

Quatro automatas foram inseridos nas apresentações: Zoe, uma robô que pintava quadros;



Fanfare e Labial, dois robôs que tocavam instrumentos; e, o mais famoso, Psycho.



Psycho adivinhava as cartas escolhidas pelo espectador, às vezes dava umas tragadas, soletrava palavras através de cartas com o alfabeto e resolvia problemas matemáticos com cartas numéricas. Maravilhou reis e rainhas da Europa. O segredo eram um sistema de ar comprimido. Psycho fez mais de 4000 apresentações, até ser aposentado e encaixotado no Museu de Londres, onde se encontra até hoje.



Maskelyne começou a implicar com os mágicos que se diziam médiuns ou telepatas – Henry Slade, Washington Irving Bishop – desvendando os truques, apresentando-os em público e testemunhando contra eles nos tribunais.

Quando não estava no palco, Maskelyne estava desenvolvendo novos truques e invenções. Maskelyne fabricou uma maquina de escrever para poder ditar as cartas para os fãs, máquinas automáticas, catracas para ônibus, mas nada que lhe trouxesse algum lucro.

E é então que Maskelyne contratou para um período de experiência mais uma pessoa para o grupo do Egyptian Hall: David Devant, um mágico com um extremo senso de negócios.




Devant fazia um blockbuster, fazendo com que a pintura de uma mulher viesse à vida.
Dez meses depois Devant era definitivamente incorporado à companhia de Maskelyne.
Em 1896 Maskelyne é convidado para conhecer a apresentação de uma nova invenção: o cinematografo dos irmãos Lumiére. Devant foi junto com Maskelyne e viu naquela novidade infindáveis utilidades para serem empregadas nos shows de mágica.



O cinematógrafo foi incorporado aos shows no Egyptian Hall, com grande sucesso, embora o aparelho usado fosse um similar de um inventor inglês, adquirido por 400 pounds, o equivalente a apenas a um mês de aluguel do equipamento dos Lumiére. Dado o sucesso, Maskelyne e Devant decidiram levar o show para uma turnê.

Cook, o velho parceiro de Maskelyne, desgostoso com a notícia de que o Egyptian Hall seria demolido para dar lugar a um edifício comercial, decide se aposentar. Maskelyne adquiriu um novo lugar – St. George’s Hall, em Longham – e para lá transfere as apresentações do Egyptian Hall, enquanto Devant continua em turnê com a companhia.






Não muito afeito com as nuances dos negócios e sem a presença de Devant, os prejuízos se avolumaram, tendo Maskelyne chamado Devant de volta, para que criassem um novo show. Maskelyne estava com 65 anos.

Maskelyne e Devant criaram um novo show – Maskelyne & Devant Mysteries – mesclando velhos truques com novidades. O show saiu em turnê pelos EUA e pela Europa, sem prejuízo da cruzada de Maskelyne contra os falsos médiuns e telepatas, o que proporcionava a necessidade da criação de novos truques. Mas a esta altura dos acontecimentos era Devant quem conduzia a maioria dos shows, inclusive perante a realeza inglesa, e ainda se desdobrava para cuidar dos negócios da companhia.




Só de St George’s Hall foram 10 anos de parceria entre Maskelyne e Devant, mas pela sobrecarga de responsabilidades Devant foi orientado pelo médico para se afastar dos negócios. Devant se afastou da companhia e fez um longo retiro no campo.
Recuperado, Devat voltou a se apresentar, mas agora sem Maskelyne, obtendo muito mais lucro do que antigamente. Devant foi um dos poucos mágicos que continuou com sua rotina de shows quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial.
Enquanto isto Maskelyne dedicava seu tempo no desenvolvimento de novos truques e ajudando na carreira de mágico do filho Nevil.

No final de julho de 1916 Maskelyne voltou ao palco e mostrou que mesmo aos 66 anos ainda dominava o ofício, inclusive do malabarismo dos vários pratos girando na mesa.
Até que em uma apresentação em maio de 1917 Maskelyne por duas vezes deixou os pratos caírem. Acabado o show, Maskelyne se retirou para seu quarto no piso superior e no dia seguinte se recusou a sair, sob pretexto de estar com indigestão. Pelos próximos dezesseis dias lutou contra uma pneumonia e um pleurisma. Em 18 de maio de 1917 Maskelyne,o fundador do show de mágica que mais tempo ficou em cartaz na história da Inglaterra, não resiste e morre.


Devant continuou em turnê, até que em uma noite de dezembro de 1919, durante uma apresentação, percebe que suas mãos estão trêmulas. Devant estava com uma doença nervosa degenerativa e se viu obrigado a se aposentar. Devant internou-se no Hospital Real de Incuráveis, em Putney, vindo a falecer algum tempo depois.

O teatro de Maskelyne – St. George Hall – continuou com seus shows de mágica mesmo após a morte do fundador, agora administrado por Nevil, filho de Maskelyne.




Com a morte de Nevil, seu irmão Clive tomou a frente dos negócios, o que incluiu uma turnê pela América do Sul. Após a turnê, Clive abandona o negócio e é substituído por Jasper, o irmão caçula.






Após algum tempo Jasper também se afasta e é substituído pelos seus irmãos John e Noel.

Até que no final de 1933 o St. George Hall é vendido para a BBC e se transforma em um estúdio de rádio.

Maskelyne foi o fundador do The Magic Circle, uma confraria de mágicos, que hoje em dia tem sua sede em Chenies Mews e é chamada de O Lar Ingles do Mistério.



Nas paredes, as fotos e cartazes de Maskelyne a tudo acompanham.

Nenhum comentário: