♦ ♣ ♥ ♠ magis veritas oculata fide, quam et aures animus hominum infigitur (A verdade vista se fixa mais no espírito dos homens do que a ouvida) ♦ ♣ ♥ ♠
18.6.10
Jean Eugéne Robert-Houdin
Jean Eugéne Robert-Houdin, o relojoeiro francês, é, com todo o mérito, aclamado o pai da mágica moderna. Robert-Houdin fez sua primeira apresentação pública em julho de 1845 usando equipamentos fabricados por ele mesmo. Mas em razão do nervosismo, a apresentação foi um fiasco, tendo ele voltado para casa arrasado. Na manhã seguinte, Robert-Houdin ele ligou para o dono do teatro e mandou que todos os seus cartazes fossem arrancados. Robert-Houdin voltou para a cama e, aliviado, dormiu o resto do dia. Mas não passava de um blefe, pois nos dias seguintes as apresentações voltaram a ocorrer normalmente: o show não podia parar.
Robert-Houdin começou apresentando autômatos (vide postagem abaixo) e alguns truques de ilusionismo, mas o que mais impressionava o público eram seus números de adivinhação.
Robert-Houdin nasceu em Blois, França, no dia 07 de dezembro de 1805, filho de um relojoeiro. Com 13 anos de idade Robert-Houdin preparou-se para iniciar os estudos de relojoaria, mas por engano pegou na biblioteca uma enciclopédia ilustrada de curiosidades e experimentos científicos, a qual devorou em poucos dias.
Já de posse do conhecimento teórico, Robert-Houdin pagou dez francos a um pedicure que fazia de hobby algumas apresentações de prestidigitação para que lhe ensinasse algumas práticas.
Aos 23 anos Robert-Houdin já era um assíduo frequentador das poucas lojas de mágicas então existentes. Após ir a um show de um famoso mágico da época – Comte – a decisão estava tomada: era aquilo que ele queria fazer profissionalmente.
Robert-Houdin passou então a frequentar todo show de mágica que estivesse sendo apresentado na região, dentre os quais os de famosos mágicos, como o italiano Bosco e o francês Philippe. (Foi na primeira apresentação de Philippe que se registrou o primeiro uso da eletricidade em um show de mágica: na abertura Philippe disparava uma arma de fogo e instantaneamente centenas de velas espalhadas pelo palco se acendiam sozinhas, através de jatos de hidrogênio e faíscas elétricas).
Philippe reacendeu o interesse de Robert-Houdin por autômatos.
Um dos primeiros autômatos utilizados por Robert-Houdin em um show foi o famoso Pastry Cook of the Palais Royal, que consistia em uma miniatura de um palácio com um confeiteiro. O espectador escolhia um bolo ou doce, e o autômato, como que por milagre, o fazia e entregava na porta do palácio em miniatura. Mais que um milagre e um engenho mecânico, a autômato trazia dentro de si, escondido, o filho caçula de Robert-Houdin.
Outro autômato famoso de Robert-Houdin era a Orange Tree (vide postagem “Automatos”).
E tambem Diabolo, que consistia em um macaco em um trapézio, sob as ordens de Robert-Houdin.
Todos estes automatos podem ser vistos no vídeo ao final.
Para poder exercer seus dons em plenitude, Robert-Houdin adquiriu seu próprio, ainda que pequeno, teatro, passando a fazer apresentações diárias. O momento culminante era a apresentação de mentalismo e adivinhação.
Provavelmente inspirado em dois mágicos indianos, Robert-Houdin passou a desenvolver uma rotina de levitação que viria a se tornar famosa: “The Ethereal Suspension”, incorporando uma novidade científica da época – o éter anestésico.
Outro número de grande sucesso era o Portfólio Encantado, no qual Robert-Houdin retirava de uma pasta de grandes dimensões toda sorte de objetos, animais e, ao final, seu próprio filho.
Com a conflagração da Revolução Francesa de 1848, Robert-Houdin viajou para a Inglaterra, vindo a se apresentar no Palácio de Buckingham para a corte da Rainha Vitória. Robert-Houdin se apresentou nas principais cidades inglesas durante um ano e meio, quando então retorna para a França e compra um novo espaço para desenvolver e apresentar suas mágicas.
Foi nesta época que Robert-Houdin fez uma turnê pela Bélgica e Alemanha, e também foi convocado pelo governo da França para uma importante missão militar na Argélia.
A Argélia, colônia francesa, passava por turbulências internas, os “marabouts”, uma facção de religiosos fanáticos, estavam estreitando relações com os principais líderes tribais argelinos, arregimentando forças para romper os laços de submissão com a França. Preocupado, o governo francês imaginou que Robert-Houdin poderia demonstrar seus poderes mágicos para os líderes tribais argelinos, para assim se contrapor a influencia dos marabouts e prestar um grande serviço à França.
Robert-Houdin embarca para a Argélia, onde passa a fazer duas vezes por semana seus shows no Teatro Bab-azon. No dia 28 de outubro de 1816 Robert-Houdin se apresenta para os potentados das tribos do deserto algeriano, com vários tradutores espalhados pela plateia. Robert-Houdin tira balas de canhão de dentro de um chapéu vazio, insinuando o poder ilimitado das forças armadas da França. Robert-Houdin tira flores do chapéu vazio, insinuando o controle de um francês sobre a Natureza. Robert-Houdin faz uma moeda de prata sumir de sua mão e aparecer em um invólucro de cristal lacrado e suspenso sobre o palco, insinuando que até o mais protegido dos fortes poderia ser invadido pelas forças francesas.
Robert-Houdin aquiescia quando o público dizia ter ele poderes sobrenaturais, e desafia qualquer um que duvidasse de seus poderes.
E eis que um árabe musculoso se levanta da plateia e aceita o desafio, subindo ao palco. No centro do palco, uma caixa sobre o tablado. Robert-Houdin se aproxima da caixa e a levanta com apenas uma mão, olhando para o árabe, desafiando-o a fazer o mesmo. O árabe se aproxima, momento no qual Robert-Houdin fita-o nos olhos e de maneira grave diz ao árabe que a partir daquele momento a força do árabe seria a mesma de uma mocinha, apontando para a caixa sobre o tablado. O árabe se aproxima, segura a caixa e, de todas as maneiras, tenta levantá-la, sem sucesso. Resignado, o árabe abandona o palco desolado e humilhado, pois além de não conseguir erguer a caixa ainda tomou, ao final, um tremendo choque nas mãos. Para arrematar, Robert-Houdin faz uma pessoa sumir debaixo de um grande cone.
Em face da fama, Robert-Houdin é convidado a se apresentar no palácio perante os principais líderes árabes.
A missão estava cumprida: os algerianos se aquietaram, achando melhor não tentar enfrentar os poderes supernaturais dos franceses. A mágica volta como instrumento ancestral de poder.
Robert-Houdin pode agora voltar para casa.
Em 1858 Robert-Houdin publica seu primeiro livro – Confidences d’um Prestidigitateur – explicando a maioria de seus truques mágicos, embora muito do que tenha escrito não passasse de pura ficção. Era o primeiro de uma série de textos que viriam a ser publicados.
Robert-Houdin morreu com 67 anos de idade, em 13 de junho de 1871, de pneumonia, em sua casa em Saint Germain. Estava escrevendo um novo livro – Magie et Physique Amusante – que só viria a ser publicado seis anos depois.
Após a morte de Robert-Houdin, sua família ainda manteve o teatro de Robert-Houdin por 17 anos, até que fosse vendido para o filho de um sapateiro, Georges Mélies, que manteve shows de mágica em cena.
Em 1895 Mélies toma contato com a invenção dos irmãos Lumiére, aquilo que viria ser o cinema. Frustrada a tentativa de obter o direito de uso da nova invenção, Mélies fica sabendo de um inventor britânico que tinha criado algo semelhante à invenção dos Lumiére, conseguindo, enfim, trazer a novidade para o teatro recém adquirido da família de Robert-Houdin.
Não é difícil imaginar o impacto que causou o casamento dos então conhecidos métodos empregados na mágica e o surgimento da técnica cinematográfica.
Um exemplo é Cremação, na qual uma assistente deitava sobre uma plataforma, era cremada, surgindo um esqueleto em seu lugar, para depois reaparecer em um canto do palco.
Mas eis que estoura a I Guerra Mundial, o teatro é fechado e os lucros obtidos por Mélies se esvaem. Com o fim da guerra, Mélies reabre o teatro, mas aí os bons tempos já haviam passado.
Em 1924 o teatro no qual Robert-Houdin viveu seus melhores momentos foi demolido para a implantação do Boulevard Haussmann.
Mas o nome de Robert-Houdin ficaria perpetuado como nome de vários logradouros públicos e como um dos principais nomes da história da mágica.
Hoje em dia existe um Museu Robert-Houdin em Blois, cidade natal do mágico, vizinho ao castelo da cidade, tendo sido o museu inaugurado em 1966 pelo bisneto de Robert-Houdin.
No museu encontram-se vários itens pessoais de Robert-Houdin: os primeiros livros nos quais Robert-Houdin aprendeu os primeiros truques, os presentes que ganhou dos líderes árabes e boa parte de seus equipamentos mecânicos e científicos.
Observando tudo, uma estátua de cera de Robert-Houdin, segurando nas mãos uma lâmpada elétrica que ele criou anos antes de Thomas Edison apresenta ao mundo sua mais importante invenção.
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